sábado, 1 de abril de 2017

De volta ao blog e Nossa viagem à Tailândia – parte 1: Bangkok

Fazia tempo que eu não publicava no blog, quase 4 anos. E de lá pra cá muita coisa mudou. Casa nova, o filho peludo já está um adulto cheio de manias, emprego novo e mais amigos pra chamar de nossos. Iuri mudou de banda autoral duas vezes nesse período, mas a banda de baile onde ele toca faz 15 anos, essa não muda, já é tradicional.



Até a linguagem na internet mudou. Agora usamos hashtags e o Facebook que era o mais moderno veículo de conexões (pelo menos era uma novidade pra mim), parece estar passando pela mesma crise do Orkut (#RIPOrkut), e aí a galera se inscreve em outras mídias em busca de novidades. Talvez este blog também esteja obsoleto, mas conto com a ajuda de vocês pra saber se o formato ainda funciona.

Indo direto ao ponto chave deste blog, que é contar pra você, cidadão, como é viver com alguém tão peculiar e amável quanto o Iuri. Foram os amigos novos que me motivaram a voltar a escrever (#ACenaVive). Claro que os amigos mais antigos ainda lembram e riem das histórias passadas, mas concordam que está na hora de renovar a literatura. O Iuri, por sua vez, contribui bastante fornecendo material todos os dias.

Pra retornar da melhor maneira, separei as histórias vividas em uma viagem maravilhosa que fizemos pra Tailândia em janeiro de 2016 (antes do Governo do Estado do RJ começar esquecer de pagar meu salário).

O planejamento da viagem já apontava as diferenças de organização entre mim e meu marido querido:

Eu tinha passaporte em dia, programei de tomarmos a vacina da febre amarela, pesquisei incansavelmente por passagens aéreas em promoção (obrigada #MelhoresDestinos), por trechos nacionais, depois por hospedagem, depois decidi quais passeios seriam legais (e éticos, por favor, não façam passeios em cima de elefantes!), e no final ainda coloquei tudo numa planilha, incluindo os dias em que faríamos cada passeio. E o Iuri? Bem, ele perdeu o passaporte (com o visto americano, junto da carteira da Ordem dos Músicos) e teve que tirar outro, mas é claro que quem preencheu o formulário, agendou o atendimento e pagou o boleto fui eu.

Obs.: Se vocês pedirem muito com carinho, eu posso explicar como eu programo as viagens sem precisar de agências de viagem, nem comprar pacotes, e, é claro, pagando mais barato.

Iuri é uma pessoa ansiosa, ou seja, vive no futuro e tem um medo exagerado de que as coisas deem errado. O stress já começou no aeroporto internacional de Bangkok. Depois do desembarque, eu avistei uma placa que indicava o ponto de táxis e fui adiante. Como a caminhada era um pouco longa, Iuri começou a ficar preocupado sobre estarmos ou não no lugar certo, e me perguntava o tempo todo se não seria melhor perguntar onde ficavam os táxis. Aliás, eu ouço a pergunta “Não é melhor perguntar pra alguém?” o tempo todo, no Brasil ou na Tailândia. Essa pergunta, na verdade, significa: “Você não quer perguntar o óbvio para um estranho só pra satisfazer a minha ansiedade enquanto você faz papel de boba e eu fico só olhando?”.

Eu não me oponho a perguntar, mas às vezes a resposta está bem diante dos nossos olhos e não faz sentido perguntar pra um funcionário se a placa que ajuda milhares de passageiros por dia a chegar aos táxis, dentro de um aeroporto gigante que funciona como hub para toda a Ásia, está certa.

Eu, que também tenho lá a minha personalidade, não perguntei nada pra ninguém, continuei andando e enfim chegamos ao táxi. Fomos direto para Khao San Road, onde ficamos hospedados. Esta rua movimentada foi cenário dos filmes “A praia” e “Se beber não case 2” (recomendo assistir antes de viajar, ou casar).


Recomendamos a hospedagem na Khao San Road, pois lá você pode, por exemplo, fingir que comeu um escorpião

[Iuri fingindo comer um escorpião, como um bom turista]

... pode comer uma das comidas de rua mais baratas da vida

[Pad Thai, é como se fosse um Yakisoba feito de macarrão de arroz, ovos e o recheio de sua preferência. Esta comida de rua significa uma refeição deliciosa por 5 reais, ou 6 se você quiser uma latinha de coca-cola pra acompanhar. Digna de um bom mochileiro.]

... ou pode ser ameaçado por um policial.

Esta história merece uma explicação. Nós estávamos dando uma volta à noite em Khao San (sem o Road é só para os íntimos) quando vimos um rapaz estrangeiro aparentemente bêbado, sem camisa, saindo algemado de um bar, escoltado por policiais à paisana, e com um galo enorme na testa. Outro rapaz veio logo atrás chorando copiosamente e pulou na viatura para acompanhar o amigo. Iuri estava com a câmera na mão e não perdeu tempo em filmar a cena. O policial viu, chegou bem perto de nós com cara de mau e começou a repetir “no photo, no photo”. Eu obedeci -“ok, ok”-, tirei a câmera da mão do Iuri e apaguei o vídeo na hora. O policial se deu por satisfeito e foi embora. Depois o Iuri me perguntou todo empolgado: e o vídeo? Eu respondi (obviamente) que apaguei, e ele ficou chateado. Acho que ele estaria ainda mais chateado se fosse preso junto com o cara do galo na cabeça. Dizem que não é boa ideia para um estrangeiro ser preso na Tailândia, então eu preferi não arriscar a pele do meu marido (só tenho esse, graças a Deus). Por isso, não temos registro desta ocasião.

Esta primeira estadia em Bangkok rendeu mais um momento de tensão. Nós fomos até um shopping e resolvemos pegar um Tuk Tuk para voltar pro hotel. Não sei se vocês sabem, mas na Tailândia nunca se deve pagar o primeiro preço que te oferecem, ainda mais sendo você um turista desavisado, isso vale para produtos e para serviços. Comecei a negociar o preço da corrida com o motorista e entendi que ele tinha aceitado a minha oferta: 200 Baht. Entramos no veículo, mas o motorista continuou parado. Então ele pediu 250 Baht para começar a corrida. Eu já ia sair do Tuk Tuk e esperar por outro, mas o Iuri, que não fala inglês, resolveu usar de seus melhores instrumentos de comunicação: seu porte imponente perante os tailandeses (todos baixos e magros); e sua carioquice no melhor estilo bad boy do subúrbio. Levantou do Tuk Tuk, ficou de pé ao lado do motorista, deu umas cutucadas no braço do cara, e fez uso de linguagem universal: Oh, oh
Parece que a negociação deu certo ... o cara fez a corrida, aceitou os 200 Baht e não falou mais nada o caminho todo.


Lembrando do fato do Iuri não falar inglês, no fim da viagem, quando voltamos à Bangkok, tivemos mais um episódio envolvendo problemas de comunicação. Chegamos ao último hotel onde ficamos hospedados (foram 6 no total) e já estávamos sem Bahts pra gastar. Daí, pedimos para pagar com o cartão de crédito. O funcionário fez algumas tentativas de pagamento no crédito, mas nenhuma deu certo, sempre dizendo “no money, no money”. Disse depois o Iuri que o funcionário não estava usando a máquina corretamente, mas eu não notei naquele momento. Eu sabia que tinha limite suficiente para pagar a estadia do hotel no crédito, mas não quis arrumar confusão. A solução foi sacar dinheiro num caixa eletrônico próximo. Enquanto eu fiquei com as bagagens, Iuri foi sacar dinheiro (trabalho em equipe). Provavelmente ele analisou profundamente o ocorrido enquanto foi e voltou do caixa eletrônico, e começou a ficar inconformado com a situação. Nós fizemos o pagamento em dinheiro, recebemos o recibo e a chave do quarto, mas o Iuri começou a insistir para eu pedir uma nova tentativa de passar o cartão (depois do pagamento feito!). Eu disse “Não, pede você”, sabendo da baixa proficiência do marido nas línguas inglesa e tailandesa. Mas o Iuri não se dá por satisfeito e vai atrás dos seus objetivos, colocando pra fora toda a sua frustração pro moço da recepção:
The problem is the machine! Money is long!

Isso não mudou a forma de pagamento do hotel, mas pelo menos o Iuri extravasou seu momento de raiva. Passado stress, conseguimos rir da situação. Eu só não esperava ouvir uma frase como “Money is long!” nessa viagem, a não ser que eu encontrasse o Joel Santana pelo caminho.


domingo, 4 de agosto de 2013

Nosso primeiro filho

Em dezembro de 2012 adotamos nosso primeiro filho: Eddie Vedder do Nascimento, um golden retriever lindo de 7 meses.


Ele é simplesmente maravilhoso, e agora temos mais um bom motivo para terminar a obra e arrumar um bom espaço pra ele, que é um bebê gigante (já chegou pesando 20kg) e muito bonzinho.

O bom de começar a família pelo cachorro é que o papai tem a chance de treinar antes de vir o bebê de verdade.

O Iuri está sendo um paizão, dando comida na hora certa (às vezes mais do que a medida, "mas é porque ele pede mais, tadinho"), levando ao veterinário, brincando bastante e dando remédio quando precisa (só tive que ensiná-lo que antibiótico tem que dar na hora certa e que a a seringa é só pra fazer a dosagem e administrar via oral, e não pra injetar com a agulha). Ele também gosta de ensinar defesa pessoal:



A minha parte é a que normalmente cabe às mães: educar, ensinar, dar banho, pentear, limpar as orelhas e escovar os dentes! Típico na maioria dos lares brasileiros. Olha ele com a professora:



Com o tempo Eddie nos mostrou o quanto é inteligente e amoroso.






Ele ajuda com as tarefas domésticas ...






Faz trabalhos voluntários ...








E se posiciona politicamente ...

Mas nem tudo são flores ... nosso filho também apronta.

Ele já tentou manter relações conjugais com uma amiga nossa ... 


... desfilou orgulhoso com um filhote de gato morto (Deus o tenha!) na boca (claro que não registramos esse momento), mas uma das mais tristes foi quando ele rasgou pouco mais de 500 reais que estavam sobre a mesa (acho que ele gosta mesmo de peixe).


Sorte que o Banco do Brasil troca se você tiver mais que 50% da nota (fica a dica).



 



sexta-feira, 13 de julho de 2012

Casa "Nova"

Estamos nos sentindo que nem gente grande.
Compramos nossa casa no começo do ano.
Mas a casa "nova" deve ser uma das mais antigas do bairro, com muitos problemas, mas com muita potencialidade também.






De tão feia, um amigo apelidou de casa do Koopa.


Viram o Mário correndo de lá?

Dona Maria, avó de uma amiga nossa, é um bom exemplo da reação de algumas pessoas:
- Eu passei em frente à sua casa, e o que que é aquilo? Tá tudo quebrado!

Gravamos um vídeo no começo da obra. A essa altura uma casa pequena que ficava no segundo andar da casa principal já havia sido derrubada, e parte dos revestimentos tinha sido retirada.


Neste momento, mesmo com o desespero por conta da obra que estava devagar, e da data próxima em que teríamos que entregar a casa que alugamos, o Iuri não perdeu o bom humor:

http://www.youtube.com/watch?v=U9CPOz7YPHk

Pois é, esse é o meu marido, o dono da obra mais louco do mundo. Num fim de semana quando eu estava trabalhando, um dos pedreiros pediu para o Iuri esquentar a marmita no microondas, ele esquentou mas não tinha almoço pronto pra ele, e já estava tudo fechado no nosso bairro. O Iuri, cheio de fome, ficou olhando para a  lasanha do pedreiro, que acabou oferecendo um pedaço. E adivinha: ELE ACEITOU!!! Deve ter sido por isso que esse abandonou a obra.

Já o outro é gente boa, tanto que o Iuri usa o telefone celular dele porque o seu nunca está por perto. Eu vi e perguntei "Iuri, você tá usando o celular do pedreiro? ... coitado, tá acabando com os créditos.", a resposta: "O Chiquinho é meu amigo!"

Este vídeo foi gravado não tem muito tempo, e obviamente a casa não ficou pronta.

O jeito foi mudar pra casa da mamãe até o espaço ficar habitável.
Isso não é nenhum incômodo, já que ir pra casa da minha mãe é como tirar férias, e aliás, as minhas começaram nesta semana.
Por enquanto, ficamos com o projeto da casa:






Este é o meu projeto.


















O do Iuri é mais ou menos assim:








segunda-feira, 18 de junho de 2012

Hóspedes

Esses dias nós tivemos uma família de hóspedes nada bem-vindos no terraço de casa.

Eu demorei a perceber, já que raramente vou até o andar de cima, onde a minha única tarefa é estender e recolher roupa do varal, coisa que faço uma vez por semana.
O Iuri sim, montou seu estúdio lá, e tomou conta do espaço inteiro, sendo um frequentador mais assíduo.

Certo dia, subia eu pelas escadas com um monte de roupa molhada no ombro quando avistei um casal de pombos trazendo gravetos para cima do aparelho de ar condicionado do estúdio.

Claro que eu não fiz nada a respeito, e convoquei o homem da casa para resolver o assunto:

- Amor, tem um casal de pombos lá em cima.

- Eu sei, já vi.

Viu e não fez nada. Ele é o único que não sabe que pombos trazem doenças e sujam tudo. Mas eu também não iria me aproximar, até porque estaria em desvantagem de número, são dois contra uma.

Na semana seguinte, o pai sumiu (típico), o ninho já estava construído, e a parede toda suja. Aí eu me desesperei.

- Iuri, você tem que tirar aquele pombo lá de cima ... ele já construiu ninho, tá tudo sujo, pombo traz doença, eu não vou mexer lá, eu tenho medo daquele bicho, eu sei que você também não vai encostar neles, chama alguém pra fazer isso, agora que tem ninho ficou mais difícil, já era pra ter tirado esse pombo de lá antes!

- Tá bom, vou tirar.

Mas ele não tirou, e a coisa ficou ainda mais complicada quando nasceu o pombinho. E obviamente ainda não sabia voar.
Então ficamos os dois com pena do bichinho e resolvemos esperar ele crescer e saber se virar sozinho pra expulsá-lo.

O tempo passava e ele não voava, mas fazia barulho, que eu ainda não sabia que era do pombinho. O Iuri tratou de me esclarecer: "É o Henrique." Putz, agora o pombo tem nome.

Outro dia, o Kadu, um amigo mais corajoso, foi lá pra pegar o pombo, e quando se aproximou, o Henrique voou e não voltou mais. Nós ficamos pensando: "Que esperto! se deixasse o cara ia fazer 30 anos e não ia embora enquanto a mãe vinha e trazia comida. E agente pensando que ele não sabia voar."

Agora quem tá boladíssima é a mãe dele, que volta todo dia e não encontra o filho adolescente que resolveu viver a própria vida. Só fica arrulhando: "Grruuu, grrruuu, Cadê o moleque?"

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Cartão do Banco

Não é novidade que o Iuri perde as coisas, mas é a maneira como ele as encontra a parte mais interessante.

A cartão do banco é o que dá mais dor de cabeça. Pelo menos uma vez por semana ele fica temporariamente perdido por algumas horas, por sorte, meu marido tem um certo medo de bancos e atendentes de telemarketing e nunca pensa em ligar para pedir o bloqueio, e logo o cartão aparece em algum lugar.

Tão maltratado, o cartão já tinha uma dobra de uns 30° que impressionava os caixas. Mas Iuri sempre se defendia: "Tá quebradinho, mas tem dinheiro", ou se preocupava: "Não, não tenta desentortar".

Um dia, voltando do trabalho, Iuri percebeu (novamente) que não estava com o bendito no bolso, na carteira, na mochila, no porta-luvas do carro, no cesto de roupa suja, ou caído por aí como costuma estar.

Um amigo chegou com hora marcada para saírem para um ensaio, pediu que o acompanhasse até o Bob's, onde provavelmente ele deixou na hora do almoço.

Chegando lá, ninguém tinha visto cartão perdido nenhum, então só havia uma possibilidade, "Devo ter jogado no lixo com a bandeja!". Sim!, isto é possível se tratando de Iuri.

Não havia outro jeito, a não ser fuçar o lixo do Bob's na esperança de achar o cartão. E foi o que eles fizeram!, e melhor ainda, O CARTÃO NÃO ESTAVA LÁ!

Desistindo da saga em busca do cartão perdido, retornou cabisbaixo pra casa.

Então eu cheguei da rua sem saber de nada, fui verificar a correspondência e achei o Chapolin Colorado (apelido carinhoso do cartão vermelho do Santander) dentro da caixa do correio:

- Amor, o seu cartão do banco tava na caixa de correios.

- Não acredito! Eu procurei até no lixo do Bob's...

Como foi parar la? Uma aluna que passava em frente a nossa casa, viu o cartão no chão da calçada, reconheceu o dono, e devolveu pela caixa de correio. Simples assim.

O Chapolin Colorado não está mais entre nós (...1min de silêncio...). Como ele só funcionava em máquinas de loja, e não dava pra sacar dinheiro com ele (o caixa eletrônico não reconhecia), um dia comentei com meu gerente do banco que o cartão do meu marido estava nas últimas, e fui surpreendida com a notícia de que eu mesma poderia solicitar o cartão, era só dar o CPF dele. A boa esposa aqui sabe o CPF do marido de cor, e em algumas semanas o Chapolin se aposentaria.

Eu não podia imaginar a reação do Iuri quando eu disse que tinha solicitado um cartão novo: Ele ficou triste com a perda do amigo.

E como se o vermelhinho pressentisse o seu fim, neste mesmo dia parou de funcionar de vez.

sábado, 17 de março de 2012

Contribuição do sogro

Desde cedo o meu amor já aprontava. Como eu só o conheci com 22 anos, perdi bastante coisa.

Felizmente eu tenho a contribuição de quem esteve lá todo o tempo pra colecionar momentos inesquecivelmente cômicos.

Está aí a primeira contribuição do blog, do pai do Iuri, Eugenio Nascimento.

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O TREM FANTASMA

Numa dessas tardes em que os pais separados saem com seus filhos, eu resolvi levar os meus ao velho Tivoli Park, que ficava na Lagoa. Foram os meus dois e a agregada da nova relação. Gandhi tinha 8 anos, Iuri 3, Ana Eduarda 5. Iuri, o menor, não queria saber de brinquedos perigosos e assustadores. Ana Eduarda ia na onda dos dois e Gandhi, para mostrar que já era homem, só pensava no trem fantasma.
Quando já se aproximava a hora de ir embora, o moleque cismou que tinha que ir no trem de qualquer maneira. Só a insistência do Gandhi já apavorava os dois mais novos e Iuri dizia: vai não Gandhi, vai não Gandhi!...

Não houve jeito. Quando chegou, perto de nós, o trenzinho repleto de meninos assustados, Gandhi foi o primeiro a ocupar o trem bem no primeiro carrinho. O trem tinha seis carrinhos, mas por uma questão de economia de energia, ele partia somente com os carrinhos que tivessem sido ocupados. E ta lá o Gandhi sozinho à espera dos maiores monstros da Terra. Iuri, ainda lhe fez os últimos apelos: vai não Gandhi!

Como não aparecia mais ninguém para seguir viagem com meu filho, o operador da besta fera foi lá e desengatou os carros traseiros deixando que meu filho fosse sozinho para o mais terrível mundo de assustamentos. Iuri não falou mais nada. Gandhi já estava vermelho de medo quando o trem partiu.

Na fachada do trem existiam três varandas superpostas por onde as crianças passavam dando adeus para os pais. Mas daquela vez só passou o Gandhi dando um adeus revelador de um pedido de socorro urgente. Não esperei que ele passasse pela segunda varanda e exigi que o operador fosse buscar ele. Lá foi o operador num dos carrinhos que fora desligado, numa lentidão proposital para que o moleque voltasse morto de medo. Na terceira varanda já passaram os dois e cinco minutos depois chegaram o salvador e o náufrago. Gandhi vomitava, o passeio acabou ali e Iuri dizia: Viu Gandhi, Viu Gandhi...  

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Trancafiada em casa

Um dos objetos mais perdidos pelo Iuri são as chaves de casa.

Eu diria que ele perde suas chaves praticamente todos os dias (também perde a carteira, o cartão do banco, a carteira de motorista), mas costuma achar em algum canto da casa (sempre diferente) pouco depois.

Quando não, lá vou eu fazer outra cópia, acho que sou a cliente mais assídua do chaveiro do bairro.

Ano passado perdeu definitivamente 3 molhos de chaves. Com a reserva que eu fiz no início do ano, foram 4 que mandei fazer.

Então era sempre assim, quando perdia seu chaveiro, ficava com o reserva até eu fazer outra cópia a partir do original (que são, é claro, as minhas chaves que nunca perco).

Numa dessas, usando as chaves reservas, a do portão estava com problemas pra abrir por dentro, era um dia da minha folga e o Iuri estava saindo pra trabalhar. Ele pediu as minhas emprestadas e eu, ainda dormindo, disse que estavam dentro da minha bolsa.

Primeiro sinal da preguiça: ao invés de procurar dentro da bolsa, lá veio ele com a tal pra que eu procurasse.

Ok, peguei as chaves, entreguei a ele, e recomendei: "Não esquece de me devolver".

Iuri ficou chateado com o comentário, resmungou: "Tá bom ..." e saiu

Um pouco mais tarde, acordei, tomei banho, café, me arrumei pra sair (tinha uma consulta marcada), e tentei abrir a porta de casa. Trancada.

Procurei pelas minhas chaves e elas não estavam lá.

Fiquei furiosa, afinal eu tinha lembrado no mesmo momento que era pra ele me devolver minha chaves.

Procurei também pela agenda telefônica a fim de ligar pra escola e pedir pra ele vir me destrancar (o celular estava desligado com sempre), e a agenda também estava trancada, mas na varanda, do lado de fora de casa, pois meu esposo costuma guardar os objetos nos locais menos apropriados.

Depois de algumas manobras telefônicas para achá-lo - casa do meu avô, escola onde minha madrinha trabalha, escola onde o Iuri trabalha - e de deixar claro pra secretária da escola que eu precisava falar URGENTE com o professor Iuri, consegui falar com ele:

C: - Iuri, cadê as minhas chaves?

I: - Estão comigo. - (como se fosse obvio)

C: - Eu disse pra você me devolver.

I: - Eu ia te devolver quando eu chegasse. (maravilha, até meio dia se alguém me chamasse no portão eu não ia poder atender, ou pior, se a casa pegasse fogo, eu morreria carbonizada)

C: - IURI, EU TENHO MÉDICO MARCADO!

I: - Ah, desculpa, eu não sabia que você ia sair. (1º sabia sim, eu disse no dia anterior; 2º se eu não for sair, posso ficar trancada em casa?, isso é carcere privado, eu poderia ter chamado a polícia)

Cinco minutos depois, me surge o Iuri, nada satisfeito, pra me entregar as chaves. Me dá novamente a desculpa de que não sabia que eu iria sair e vai embora ainda chateado, como se ele tivesse razão.

Foi a primeira vez que suas perdas de chaves tiveram uma consequência pra mim, mas pra ele o esquecimento já trouxe muito prejuízo.

Pulou o muro diversas vezes por ter batido o portão (que só abre por fora com a chave) e ter deixado as benditas dentro de casa. O movimento rendeu alguns arranhões, não só nele. Da última vez mandou um aluno pular o muro pra ele para abrir o portão por dentro. Exploração do trabalho infantil ...

Enfim, resolvi contar essa história hoje, porque ontem ele cometeu o mesmo erro. Saiu de casa enquanto eu ainda dormia com as duas chaves no bolso (no dia anterior eu tinha alertado novamente pra ele não fazer isso).

A sorte (dele) foi que quando eu me dei conta e liguei pra reclamar, ele já estava na porta de casa com um pote de sorvete e uma lata Toddy pra mim. Me comprou com chocolate e eu esqueci rápido da mancada.